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[OPINIÃO] "A Iolanda conseguiu levar não só as suas convicções nas unhas, mas um pouco de todos nós na voz"

 Passaram quatro semanas da Grande Final do Festival Eurovisão 2024 e o Nuno Carrilho não quis quebrar a tradição de recordar a edição deste ano: "Dizem que esta foi a Eurovisão da vergonha e da hipocrisia. Não concordo. Acredito que foi uma Eurovisão em que parámos para pensar o rumo que o Mundo está a levar...".


Ano após ano, preciso de algumas semanas para conseguir digerir tudo o que acontece em cada Eurovisão: por norma, duas semanas chegam para passar da ressaca eurovisiva para a Post Eurovision Depression. Tudo normal num ano normal, mas 2024 foi tudo menos um ano normal. Precisei de mais alguns dias e agora, passadas quatro semanas (quase um mês), não quis quebrar a tradição de comentar aquilo que foi o Festival Eurovisão 2024. 

Depois de Lisboa, Turim e Liverpool, voltei a acompanhar o Festival Eurovisão ao vivo, em nome do muy nobre ESCPORTUGAL, e Malmö ficará certamente na história da Eurovisão não pela edição que sediou, mas por tudo o que aconteceu fora do palco da Malmö Arena. E naquela que foi a minha quarta Eurovisão ao vivo, sinto que, pela primeira vez, consegui aproveitar todo o concurso quer enquanto elemento acreditado, quer enquanto eurofã (sim, porque às vezes esqueço-me que sou tanto fã quanto todos os outros). Assim, optei por assistir ao vivo às duas semifinais do concurso (evitando previamente assistir aos ensaios e, posteriormente, às atuações dos apurados), guardando para a transmissão da Grande Final a minha primeira visualização das prestações (Óbvio que não resisti a umas quantas, mas sem problema de maior).

Antes de falar da Grande Final, que mais uma vez voltará a ser o foco deste meu artigo, um pequeno apanhado das duas semifinais deste ano: dois bons espectáculos televisivos, onde Petra Mede e Malin Akerman foram donas e senhoras do palco. Nota mais que positiva também para os interval acts, com destaque para o medley de Benjamin Ingrosso na primeira semifinal e o Sing Along de Charlotte Perrelli (Deus no céu, Charlotte na Terra), Helena Paparizou e Sertab Erener. No que diz respeito aos não finalistas, destaco o desaire da Bélgica na classificação, algo que nunca pensei que pudesse acontecer (e era uma das minhas favoritas...), bem como o afastamento da Polónia, algo que achava ser praticamente impossível. Contudo, um agradecimento especial à EBU/UER pela colocação de Portugal no segundo lugar de passagem à Final: se depois do apuramento da Sérvia, o meu pobre coração ficou a mil, nem quero imaginar se a Eslovénia ou Chipre (que eu dava como não finalista) tivessem passado à nossa frente. O único problema: o tradicional vídeo de reação, que está disponível AQUI no TikTok, ficou mais curto que o habitual... mas a intensidade e a gritaria não sofreram qualquer alteração. Mas olhemos agora para a Grande Final...

Tivemos o hino, a princesa Victória, um vídeo a assinalar o regresso a Malmö, um cunho sueco não-eurovisivo para animar a entrada e et voilá: o desfile das bandeiras no regresso ao seu local de nascimento. Num ano normal, seria apenas mais uns minutos de transmissão. Em 2024? Todo o mundo de olhos postos no alinhamento, não fosse algum país boicotar a edição o que, na forma como os ânimos estavam exaltados, não seria algo tão inesperado. Mas não! Depois de toda a confusão no ensaio do dia anterior, tudo correu bem com a Irlanda a entrar com tudo e Portugal a ter uma entrada mixed fellings: há quem tenha achado uma entrada muito frouxa, mas agora a rever toda a transmissão sindo que era um spoiler para a posição que havia de ser marcada mais à frente (só critico o tamanho da bandeira, que nos colocou em último lugar na categoria). 

Ah! E para quem acha que Portugal foi o único país a levar motivos de apoio à Palestina para palco, um olhar mais atento à entrada de Angelina Mango talvez faça mudar de ideias... Nota positiva para a entrada de Nemo, representante helvético, que foi obrigado a entrar à socapa com a bandeira não-binária (Oh EBU, vamos lá a acordar para 2025, sff). Rainhas em palco, votação aberta e que venham as atuações...

Através do sorteio, a fava de abrir o alinhamento calhou ao país anfitrião: Suécia. "Unforgettable" não é nenhuma obra prima musical, nem tão pouco os jovens Marcus & Martinus são uns exímios cantores, mas a Suécia mostrou, em casa, a sua capacidade de dar três minutos incríveis de produção televisiva. Dificilmente esta atuação teria corrido tão bem num dos outros anos. Se colocaria esta proposta no top10? Não. Mas foi injusto? Talvez não tenha sido...

Aquando da escolha de "Teresa & Maria", a canção da Ucrânia passou a ser uma das minhas favoritas: mas enjoei e empurrei para fora do meu top10. No entanto, seria impossível não mudar novamente a minha opinião (coerência não é o meu forte e apenas consigo ser coerente... na coerência) após a atuação de alyona alyona & Jerry Heil. Da subida da montanha com as imagens de mísseis de fragmentação nos LED's (um dos momentos mais bonitos e arrepiantes que já vi em palco) à armadura usada, do rio azul a banhar o deserto árido ao amontoado de pessoas da imagem final, nada foi deixado ao acaso nesta atuação. E, políticas à parte (mas muito presentes!), são estes momentos que me fazem amar a Eurovisão. Porque subir ao palco da Eurovisão não é apenas subir a um palco para cantar: é subir a uma plataforma de milhões de pessoas para mostrar também os seus ideias e os seus apelos. E a Ucrânia faz isto melhor do que ninguém! Merecida a classificação e uma entrada direta para as atuações mais marcantes da história do concurso.

Apontada por muitos como uma das últimas classificadas do ano, a Alemanha lembrou-nos que a Eurovisão é um jogo que se ainda sem joga em palco e que a música ainda tem uma palavra a dizer no final. Uma atuação simples mas direta, uma canção super descontraída (que facilmente passaria numa rádio nacional) e uma interpretação bem conseguida tornaram a Alemanha numa das surpresas da edição: ainda que o resultado não tenha sido propriamente um estrondo, mostrou que a Alemanha não é uma carta fora do baralho nas classificações eurovisivas. Basta apostar bem... ou apostar menos mal!

Estava de malas prontas pelas ruas de Liverpool a desesperar por um transporte para o aeroporto (havia greve naquele dia) quando o Luxemburgo anunciara o seu regresso à Eurovisão. Um ano depois, com um apuramento merecidíssimo para a Grande Final, eis que o pequeno país (mas com um lote de troféus eurovisivos invejável) veio mostrar que isto não é um conurso de tamanhos. E apesar de "Fighter" me ter passado ao lado durante toda a pré-temporada, tornou-se uma das minhas favoritas ao vivo. A alegria que a TALI emanava foi outro dos pontos fortíssimos durante a atuação da qual só retirava aqueles efeitos com os leopardos (Polónia, és tu?!). Que seja um regresso para ficar!

Israel. Um dos países protagonistas desta edição do Festival Eurovisão. Num ano normal, "Hurricane" seria uma das propostas mais amadas dos eurofãs, com a interpretação de Eden Golan a ser uma das mais fortes de todo o alinhamento. Mas o que acontece no Mundo não ficou (nem nunca ficará) fora do palco da Eurovisão e acabámos por ter a presença do país discutida até ao último segundo. Com um conflito sem fim à vista, onde não existe bom e mal, mas onde morrem inocentes a toda a hora, continuo a concordar com a participação de Israel na Eurovisão. Porquê? Porque queremos paz e senti que, naqueles minutos, estivemos todos unidos a pedir o mesmo. Quem apupou pediu o fim dos ataques de Israel a Gaza, quem aplaudiu pediu a libertação dos reféns do Hamas. Em comum? A paz! E num evento apolítico (ou que o tenta ser ano após anos) tivemos esta dualidade de visões também na votação: enquanto muitos dos júris boicotaram discretamente a candidatura de Israel, tivemos uma votação massiva do público na canção. Se há explicação para tal? Haver há, mas tentarei explicar noutra altura... Apenas desejo que, em 2025, possamos todos festejar juntos e em paz!

Eis chegada a vez da Lituânia com "Luktelk" a saltar para o meu lote de favoritos aquando da Barcelona Eurovision Party. Foi um exemplo claro de "primeiro estranha-se, depois entranha-se" no concurso deste ano, que teve uma das melhores adesões do público da Malmö Arena. Com um som bastante distinto do que o país nos ofereceu nos últimos anos, a proposta do Silvester Belt veio mais uma vez comprovar que os tempos em que a Lituânia não representava perigo na Eurovisão acabaram e que temos de olhar com outros olhos para este país. Belíssima participação que, no meu entender, merecia figurar no top10 final.

Zorra Zorra Zorra! Seguimos com nuestros hermanos que, uma vez mais, estiveram debaixo de fogo dos puritanos desta vida. E desta vez porquê? Por uma mulher cantar sobre ser livre sem ser rotulada de Zorra (um derivado de porquitxona em espanhol). E isso foi motivo para implicar com tudo o resto: a Mery cantava mal, os bailarinos mostravam o rabo, a Mery vestia mal, os bailarinos apelavam à homossexualidade... (cansei!) Zorra! Zorra! Zorra! Foi uma das minhas favoritas antes e ao vivo, especialmente com toda a arena a gritar "Soy más zorra todavía" e a mostrar que a Eurovisão ainda serve para unir pela música. Apenas alguns reparos para a atuação apresentada, com o figurino (ou o calçado!) quase a tramar a vocalista nalguns momentos. De resto? Espanha roubadíssima!

Seguimos com a Estónia com uma proposta que apenas ouvi duas ou três vezes na íntegra. Na minha humilde opinião, esta canção deveria ser premiada: achava ser difícil encontrar alguma coisa mais confusa do que o título dela própria - "(Nendest) narkootikumidest ei tea me (küll) midagi" para quem não sabe. Foram três minutos divertidos para quem gosta, três minutos dolorosos para quem odeia, mas sinto que os intérpretes foram felizes em palco. E obviamente que fico feliz com a felicidade dos outros! Sobre a classificação? Achava que ia ficar muito acima do que aquilo que ficou... (PS: Sou pessoa para daqui a uns meses ler isto tudo e odiar... por já amar a canção).

Se não fui cancelado até aqui, dou-te os parabéns a quem aqui chegou. Contudo, a probabilidade de abandonarem agora é elevada. A Irlanda chegou a Malmö no meu último lugar e só não ficou mais abaixo porque, infelizmente, não havia mais candidatos (lembram-se do que disse da Estónia? Milhões de vezes aquele surto). Contudo e não obstante, a Irlanda deu uma valente lição a quem a enterrou antes de morrer (não achei palavras mais adequadas para o contexto) e levou aquela que foi, na minha opinião, uma das melhores atuações de sempre. Continuo a odiar a canção e tudo o que ali aconteceu, mas admitamos: foram três minutos perfeitos de realização. Votação merecida! Apenas tenho pena que a mensagem de cesar-fogo na maquilhagem da artista escrita numa língua das árvores tenha sido descoberta antes da transmissão...

Responsável pelos melhores vídeos de reação aos apurados da Eurovisão de sempre, a Letónia regressou às finais eurovisivas com "Hollow", uma das minhas canções favoritas deste ano. Um beijinho no ombro para todos os que duvidaram do seu apuramento (incluíndo eu próprio) e mais uma chapada de luva branca para todos os donos do ESC que, à partida, já sabem os resultados todos. Sobre a Letónia, uma atuação simples e sem grandes focos de distração, onde Dons dá e mostra tudo o que tem de melhor. Quem sabe sabe e tudo o resto é conversa. A nível pessoal, talvez colocasse a canção um pouco mais acima na tabela, mas justíssimo e merecídissimo resultado letão. (Doze pontos para a forma emotiva como acabou a atuação na semifinal. Dos momentos mais arrepiantes de sempre).

Há canções que se amam sem nenhuma razão em específico. Outras que se odeiam pela mesma razão. E a canção da Grécia ocupa o segundo lote desde o seu lançamento. Ainda que tenha aligeirado a minha opinião sobre "Zari" com a atuação, a proposta grega continua longe de me encher as medidas e passou-me completamente ao lado. Foram três minutos animados e, para muitos, a fazer recordar a Grécia de outros tempos. Com muita pena minha, foram só mesmo três minutos a passar o tempo.

Muito alarito em torno da escolha britânica para Malmö culminaram numa coisinha muito sem jeito... A canção do Reino Unido nunca integrou o meu lote de favoritas, mas sempre deixei espaço (e esperança) para uma eventual surpresa. No entanto, a atuação que o Olly levou a palco foi, em resumo, um valente exagero: do início ao fim, foi tudo em excesso... até as notas falhadas. Tanto abandonou a bandeira, que a esfarrapou e culminou num null points do público. Valeu a realização televisiva e partes da canção. De resto? Nem por isso...  O menos é mais, Reino Unido. O menos é mais!

O tema mais místico do ano a seguir-se no alinhamento, com a Noruega a fazer uma aposta arrojada e muito arriscada. Pensava eu que "Gate" tinha tudo para um brilharete: afinal, além de ter passado à rasca, acabou por ficar no último lugar... E só consegui perceber tal coisa (admito que no momento fiquei chocado) ao ver a atuação final na televisão: se ao vivo, a Noruega conseguiu envolver a Malmö Arena na acústica da canção, na televisão tudo foi estranho. Dos planos às imagens, até à voz da cantora, parece que nada ali funcionou corretamente. Não a colocaria em último lugar, mas infelizmente consigo perceber a classificação... Se aceito? Que remédio.

É já uma tradição: ano após ano, diretamente de e do Sanremo, Itália traz-nos grandes canções. Este ano não foi excepção! E mesmo tendo "La Noia" no meu lote de favoritos da edição, a Angelina Mango levou para palco acabou por ficar um pouco aquém do esperado. A escolha das imagens de fundo foi algo que sempre me irritou (especialmente na semifinal com um figurino que replicava o já enervante padrão) e na produção televisiva acabou por ser um foco de distração que a canção não precisava... Ainda assim, dos três minutos mais animados da noite e outra brilhante (e justa) classificação italiana.

Da Sérvia veio uma das canções cujo hype nunca percebi... Tirando os segundos iniciais, em que a câmara aparece numa espécie de nevoeiro, sinto que foi uma das atuações mais chatas da edição sem qualquer interesse, aliada a uma canção que parece ter ficado a meio do trabalho de composição. Sinceramente, foi uma das que menos gostei do ano e poderia ter dado lugar a outra canção de entre as afastadas da semifinal... 

Quase ganharam em Liverpool e, este ano, tentaram repetir a receita, mas sem os ingredientes suficientes para ter o mesmo bolo: eis o relato da Finlândia em Malmö. Foi uma das atuações mais divertidas da noite e seriam os vencedores se fosse a Eurovisão da Diversão, mas, felizmente, ainda não o é... Nota máxima para a produção e realização mas nem tal salvou uma canção fraquinha que teve o lugar fraquinho que merecia. Ainda assim, esperava muito mais do televoto (há esperança no mundo eurovisivo!). Três minutos para descomprimir e apenas voltar a ver com o som desligado.

(Por aqui atuou Portugal, mas sobre "Grito" escrevo no fim)

Acreditem, não vou usar a ironia em momento algum sobre a Arménia neste artigo. Porque, por incrível que pareça, não consigo gostar desta proposta. Divertida, energética e até viciante: tudo certo. Mas não consigo gostar e, se ouvir mais do que trinta segundos, começa sinceramente a enervar-me. Ainda bem que há quem goste, porque daqui não consigo mesmo. Nota positiva para os sons tradicionais e étnicos. Talvez daqui por uns meses consiga gostar...

De Chipre outra das canções que nunca me disse nada. Ainda coloquei em causa o seu apuramento, mas verdade seja dita, Silia conseguiu ter uma das prestações mais competentes do ano. E a canção apesar de seguir aquela receita genérica barata, que podia representar Chipre ou qualquer um dos outros países todos, acaba por ter sempre espaço (e ainda bem) na Eurovisão. Se merecia a classificação que teve? Se calhar foi um tanto exagerada...

A noite já ia avançada quando começámos a chegar aos super favoritos. E o primeiro a subir ao palco havia de ser o vencedor da noite: a Suíça. Desde a apresentação do tema, que "The Code" conseguiu conquistar-me, mesmo sendo de um registo pelo qual às vezes tenho alguma dificuldade em simpatizar. "Ah e tal parecia o Popas" ou "A atuação parecia uma palhaçada" foram alguns dos comentários que li em relação a esta canção. Então vamos lá que hoje faço uns descontos: "The Code" é um hino ao que não é uma coisa nem outra: porque há muito mais entre o branco e o preto e entre o 0 e o 1 (sendo eu professor de Matemática, posso até afirmar que há uma infinidade de números racionais).E agora é pensarmos nisso e olharmos para a atuação: as quedas, as dúvidas, o correr de um lado para o outro, o balançar, o ter de sair da estrutura para saltar mais alto... até o manter o equilíbrio durante todo o tempo. Que grande vitória esta e que grande ensinamento que possamos daqui levar!

Uma das surpresas nas semifinais foi o apuramento da Eslovénia. "Veronika" acabou por ser, numa fase inicial, uma das maiores desilusões do ano, mas aos poucos vinha a subir no meu top. E se ao vivo fiquei desiludido por ter uma atuação com muita luz ao contrário do que esperava, acabei por perceber muitas das decisões ao rever a atuação na televisão. A Eurovisão também precisa destas canções! E que bem esteve a Eslovénia neste campo...

Sempre achei exagerado o hype em torno da Croácia e só depois de ver a atuação ao vivo na semifinal percebi que podíamos estar na presença do vencedor do Festival Eurovisão 2024. E se o tivesse sido, tería sido igualmente um justo vencedor. E atire a primeira pedra quem nunca sofreu com a separação de um animal... Trocadilhos à parte, Baby Lasagna (que surto de nome, desculpem lá) deu tudo em palco e levou a Malmö Arena ao rubro com uma força descomunal. E repito o que disse anteriormente: que bom é esta Eurovisão que consegue unir as pessoas através da música. Mesmo que seja sobre uma vaca ou sobre um gato... Ah e foi uma canção repescada: levemos para a nossa vida que, às vezes, tenhamos apenas de esperar pela nossa oportunidade.

Nutsa Buzaladze conseguiu quebrar um dos maiores enguiços da história e levar a Geórgia novamente à Final da Eurovisão. "Firefighter" passou-me ao lado durante toda a pré-temporada, mas é atualmente uma das canções que mais ouço no dia a dia. Em palco tivemos uma das prestações mais intensas da edição (e tivemos o privilégio de a ver replicada no Euroclub a poucos metros, AQUIAQUI) e um dos apuramentos mais merecidos da semifinal. E que seja apenas o início do regresso da Geórgia aos bons tempos que já teve na Eurovisão...

França. Minha amada e doce França. E aquele país pelo qual tenho uma enorme estima, não fosse ele que tanta fome tapou na minha família, resolveu levar uma das maiores propostas que já vi na Eurovisão. O poder vocal de Slimane é de outro mundo e acreditem: ao vivo ainda é mais emocionante. E mais do que uma grande canção e uma grande voz? Um grande homem. Do Slimane guardarei mais dois momentos para além da atuação: os trinta segundos (uma vida para mim!) em que tive oportunidade de privar com ele e o momento em que, durante o ensaio geral, parou de cantar para fazer um apelo à paz no mundo, fazendo gelar e brotar em lágrimas toda uma multidão que assistia no Press Center. Pena que tenha ficado fora do top3... mas em primeiro lugar no meu coração. Que orgulho idolatrar artistas que são muito mais do que meros intérpretes!

A fechar o alinhamento da noite tivemos a Áustria. Ainda que tenha sido contemplada com o lugar mais desejado por todos, acho que foi um presente envenenado... algo que ainda foi acentuado com a avaria da câmara no momento alto da prestação. Porque não voltou a atuar? Boa questão. Não fez parte dos meus favoritos, mas não envergonhou ninguém. Muito pelo contrário... mas já vimos a Áustria a levar muito melhor!

Terminadas as atuações foi tempo da votação, mas também tempo de termos os Alcazar em palco e uma homenagem aos ABBA com Conchita Wurst, Carola e Charlotte Perrelli (a última parece ter sido a Iva Domingues lá do sítio e ocupou todos os lugares deixados vagos...). Tivemos também o regresso da Loreen ao palco da Eurovisão. Mas o artigo já vai longo e vamos ao que importa realmente: Portugal.

Num ano em que estive mais desligado do Festival da Canção do que o habitual, mantive as minhas dúvidas sobre o desempenho de "Grito" até Malmö. Sendo português, a vontade de estar novamente na Final era grande, mas as dúvidas ainda persistiam... E o problema não estava na canção, mas em mim. Porque, conforme percebi depois, "Grito" é muito mais do que três minutos da simples junção de música, voz e letra. São três minutos de um grito interior que todos temos. Um grito de inquietações, de sentimentos, de vontades e de medos. 

O click deu-se ao ouvir o primeiro ensaio de Iolanda na arena. Identifiquei-me do primeiro ao último verso, da primeira à última nota, e até o grito que coroa a atuação me levou ao "grito" que tive de dar na minha vida. Porque a Eurovisão tem dessas coisas: o sermos nós próprios também em palco. E a Iolanda conseguiu levar não só as suas convicções nas unhas, mas um pouco de mim na voz. Um pouco de mim e um pouco de todos nós que nos identificámos E que orgulho senti na nossa intérprete! E que sorte tive eu de viver aqueles três minutos! Sim, porque a noite em que triunfara no Festival da Canção, podia ter sido a minha última: mas "a estrela mãe" fez "o dia nascer de novo"...

E no final, a nossa Iolanda foi agraciada com um top10. Uma presença que muitos poucos que nos representaram conseguiram. E foi merecido? Merecídissimo. Pelo talento, pela força, pela coragem e pela convicção. Por ter conseguido levar um pouco de tantos de nós para um palco tão forte como é o da Eurovisão! E uma palavra de maior apreço aos bailarinos que a acompanharam: ao Renato, ao Telmo, ao João, à Inês e à Melissa. De todas os trabalhos que já fiz nestas lides, a entrevista que tivemos no dia da Grande Final foi das coisas mais enriquecedoras, ganhando um lugar no meu coração. Porque nem sempre são reconhecidos, acreditem: todo este sucesso foi também graças a vocês.

E algures no alinhamento teríamos tido os Países Baixos. É díficil comentar sobre o afastamento do JOOST: ninguém percebeu nada e, pelos vistos, demoraremos alguns meses a descobrir o que aconteceu nos bastidores e que levou a uma das decisões mais estranhas da história da Eurovisão. E depois do que vimos na semifinal, claramente o "Europapa" iria lutar por um lugar cimeiro (lá ia Portugal para o 11.º lugar da classificação) e provavelmente iria mexer com muita posição. E logo tinha de acontecer quando eu finalmente percebi e gostava daquele que era o mais surtão da temporada... E não é que deixou mesmo a casa a arder?

E revistas todas as atuações, esta seria a minha classificação final da Eurovisão 2024:
(entre parênteses, as canções que ficaram pela semifinal)

1.º França
2.º Espanha
3.º Ucrânia
4.º Portugal
5.º Suíça
6.º Lituânia
(Bélgica)
7.º Croácia
8.º Israel
(Países Baixos)
9.º Itália
10.º Letónia
11.º Irlanda
12.º Noruega
(Azerbaijão)
13.º Luxemburgo
(Polónia)
(Dinamarca)

14.º Suécia 
15.º Alemanha
16.º Geórgia
17.º Eslovénia
18.º Grécia
19.º Reino Unido
(Albânia)
(Moldávia)
20.º Áustria
(Austrália)
(Chéquia)
21.º Chipre
(Islândia)
22.º Arménia
23.º Finlândia
(Malta)
24.º Sérvia
25.º Estónia
(São Marino)

E dizem que esta foi a Eurovisão da vergonha e da hipocrisia. Não concordo. Acredito que foi uma Eurovisão em que parámos para pensar o rumo que o Mundo está a levar... E se o slogan foi “United By Music”, que este possa ser levado em conta nos próximos anos e que a paz realmente prevaleça entre todos Uma coisa é certa: nenhum de nós veio igual de Malmö. 

Agora, mais do ue nunca, é tempo da Eurovisão virar mais uma página e de pensar no seu rumo e no rumo do Mundo. De pensar que queremos uma Eurovisão de paz e de união, onde a tensão e as ameaças não têm lugar. Que seja aquele lugar de amizade, onde não há guerras nem conflitos, e onde, anos após anos, a Europa deixa de ter fronteiras e todos vivem o seu sonho em conjunto! Que volte a ser aquele lugar em que todos somos o que somos, em que não somos rotulados, onde não há fronteiras e onde somos um só: uma comunidade de partilha e de amor, ao som da música que nos une! Que venha a Eurovisão 2025.

 Até para o ano!

Artigo de Opinião de Nuno Carrilho

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Fonte: ESCPORTUGAL / Imagem e Vídeo: Eurovision.tv
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  1. Anónimo12:11

    E os Países Baixos?

    ResponderEliminar
  2. Anónimo19:46

    E que seja um ano onde as nossas opiniões possam ser aceites e não julgadas, criticadas ou sobrepostas por alguém. É que possamos ser nós próprios, e claro que voltem os Juris nas Semi-final.

    ResponderEliminar

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