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[OPINIÃO] "A Mimicat relembrou-nos que o Festival Eurovisão é muito mais do que um concurso de canções"


Passaram duas semanas da Grande Final do Festival Eurovisão 2023 e o Nuno Carrilho não quis quebrar a tradição de recordar o espetáculo: "Mimicat subiu ao palco com o país, que sempre a ignorou, de olhos postos nela, fazendo das «tripas coração» e a deixar um Portugal orgulhoso como nunca".


Passaram precisamente duas semanas da Grande Final do Festival Eurovisão 2023 e continuo a usar esta data, usualmente no limite entre a ressaca eurovisiva e a Post Eurovision Depression, para recordar tudo o que aconteceu no palco do concurso internacional. E este ano não poderia ser excepção! Depois de Lisboa e de Turim, voltei acompanhar o Festival Eurovisão ao vivo, em nome do ESCPORTUGAL, e Liverpool certamente ficará na história eurovisiva não só pela edição que sediou, mas especialmente da forma como tão calorosamente recebeu o concurso internacional.

E antes de falar da Grande Final, um pequeno apontamento para as duas semifinais que a antecederam. Dois bons espectáculos de televisão e com lotes de candidaturas bastante interessantes (ainda que com grandes fossos de qualidade entre os candidatos). A disputa na primeira semifinal foi mais intensa do que aquilo que esperava (e admito que gostaria de ter visto a Letónia ou a Irlanda a apurar-se para a Grande Final em vez da Sérvia ou da Croácia), enquanto na segunda semifinal o hiato de pontos já se fazia esperar (e dificilmente mudaria o lote de apurados dessa gala). E ainda sem querer falar muito nesta edição (prometo fazer no fim deste artigo), admito que a nossa canção (ou a organização) fez jus ao título e colocou-me com o coração nas mãos durante o anúncio dos finalistas! (O momento está no TikTok, AQUI). Mas olhemos agora para a Grande Final...

Com o Reino Unido a acolher o Festival Eurovisão 2023 no lugar da Ucrânia, a BBC reuniu várias personalidades de diferentes quadrantes da sociedade para participarem nesta tão especial versão de "Stefania", mostrando que a vitória dos Kalush Orchestra foi muito mais de união do que de política. Sem menosprezar nenhum dos outros, admito que o meu WOW foi para a participação da Princesa de Gales. As mãos abertas que vimos no palco foram um claro espelho daquilo que foi e é o Festival Eurovisão há décadas: um espaço pronto a receber todos aqueles que querem fazer parte dele! Seguiu-se a flag parade intervalada por algumas das mais marcantes participações ucranianas no evento, como Jamala, Go_A (cujos elementos tive o prazer de encontrar uma loja de souvernirs em Liverpool), Tina Karol e Verka Serduchka, sendo que a última foi, durante a semana eurovisiva uma das grandes presenças na playlist do Euroclub. Na verdade, todos sabemos de que lado estamos na história atual! Destaque também para os apresentadores da edição! E sim, que venham as canções (vou falar pela ordem de atuação e guardar o nosso "Ai Coração" para o final...)!

Áustria! Sem dúvida, uma das surpresas da edição e, sejamos sinceros, da ordem de atuação, especialmente depois de ter sido visto na semifinal que "Who The Hell Is Edgar?" não tinha o mesmo impacto em palco que teve no videoclip...Ainda assim, uma das propostas mais interessantes do ano, com uma das mensagens mais poderosas da edição (quem disse que uma canção animada não pode dizer umas verdades ali pelo meio?). Acabou por perder força em palco e percebi, ainda na semifinal, que não ficaria num lugar muito cimeiro, mas que bom ter a Áustria novamente na Grande Final!

(Por aqui atuou Portugal mas deixei o comentário a "Ai Coração" para o final deste artigo)

Terminada a atuação de Portugal, seguiu-se a Suíça no alinhamento. E este "Watergun" mostrou-me (mais uma vez) que é díficil separar o coração dos ouvidos (a frase ficou estranha, admito), mas o sentimento (aka vontade) de ter Portugal na Grande Final fez-me sempre não gostar desta proposta... até ter visto a atuação do Remo Forrer no Eurovillage. O que é certo é que o cantor, uma das vozes mais interessantes do ano, pegou num diamante fosco e soube limá-lo, tornando esta proposta num produto bastante interessante. E quantos vezes dei por mim a trautear Soldiers Soldiers? Merecido apuramento para a Grande Final, onde esperava que tivesse mais apoio por parte do júri...

A Blanka da Polónia chegou a Liverpool debaixo de fogo por ter ganho a final nacional polaca contra o ultra favorito dos fãs e por dizer Babje em vez de Baby. E que fez a cantora? Assumiu o Babje como sua arma de arremesso, mostrou que, como em tudo na vida, há gostos para tudo e que a Eurovisão tem espaço para todos os tipos de canções, mesmo aquela que dizem carecer de qualidade musical (seja lá isto aquilo que for). Admito que está longe das minhas favoritas e que a atuação tem alguns momentos ...sem palavras..., mas que é uma das canções do ano que me faz, digamos assim, soltar a franga e cantar do início ao fim. Escapou aos últimos lugares e isto foi, sem dúvida alguma, a grande vitória polaca.

Seguiu-se a Sérvia com "Samo Mi Se Spava" interpretado por Luke Black, provavelmente o artista que mais vezes encontrei nas ruas de Liverpool durante a semana eurovisiva... A canção da Sérvia nunca me convenceu e foi daquelas propostas que sempre tive dificuldades em palpitar sobre o seu destino... até ter visto a reação do público na M&S Bank Arena aquando da semifinal. Ocupou os meus últimos lugares na Grande Final (por uma questão apenas e só de gosto pessoal), se bem que não tenho problemas alguns em admitir que merecia uma melhor classificação no final das votações. E outra prova de que a Eurovisão evoluiu e que todas as canções têm espaço neste concurso.

Ainda que longe dos resultados esperados, França voltou a ser uma das protagonistas do Festival Eurovisão e, em nome próprio, foi dos países que mais oscilou no meu ranking eurovisivo. Aquando do anúncio de La Zarra fiquei bastante espectante, algo que se desvaneceu com a revelação de "Evidemment" que, volvidas algumas semanas, finalmente me fez dar o click e colocá-la no lote dos meus favoritos. E sinto que o mesmo aconteceu com o público eurovisivo... (E nem falo de personalidades porque o que realmente importa aqui são as canções!). A prestação de La Zarra foi bastante interesse, mas acabou por ser como o pedestal usado: começou bem alto mas acabou por descer. Não esperava que ficasse tão abaixo na tabela, mas fiquei com mixed fellings e um sentimento agridoce no final da atuação. Pode não ter singrado na classificado, mas "Evidémment" ficou para nosso consumo durante os próximos anos. E todos podemos finalmente chanter la Grande France!

Uma das surpresas da edição. Chipre deixou de lado a receita que lhe deu o lugar histórico em Lisboa, ainda que tenha continuado o recrutamento de artistas da diáspora... Já conhecido das lides eurovisivas, Andrew Lambrou deixou-me um bocado na dúvida aquando da sua escolha, com "Break a Broken Heart" a não me encher as medidas nas primeiras audições. Contudo, o tema de Chipre tem sido um dos que mais tenho ouvido desde a Grande Final, aproximando-se muito daquilo que usualmente ouvimos na rádio. E se ouvimos na rádio, não podemos ouvir na Eurovisão? Surpreendeu-me na hora da votação, mas passados estes dias (já percebem a minha decisão de escrever este artigo de cabeça fria?) percebo esta classificação... que até poderia ter sido um pouco mais acima!

Nuestros hermanos seguiram-se no role de canções da noite, com a proposta de Espanha a ser, desde o início, uma das minhas maiores incógnitas da edição. "EAEA" era a canção mais nacional a concurso na edição deste ano e as dificuldades de singrar num público tão heterogéneo como o da Eurovisão seriam muitas, ainda que estivesse longe de pensar que seria a última do televoto com apenas 5 pontos (pelos vistos nem mesmo os portugueses ficaram agradados pela canção de Blanca Paloma). Contudo, ainda que perceba quem não goste desta proposta, causa-me alguma confusão ver esta proposta em 9.º lugar com apenas 95 pontos (2,63 por país) na votação do júri. Terá sido a síndrome "Quien Maneja Mi Barca"? Ou as mudanças na atuação que a tornaram mais psicadélica? Valendo o que vale, sinto que Espanha merecia melhor classificação do que aquela que teve... Mas é apenas a minha humilde opinião.

Vencedora em 2012, Loreen chegara a Liverpool com todos os focos apontados para si, com a derradeira oportunidade da Suécia de alcançar a 7.ª vitória eurovisiva e da cantora sueca de igualar o feito de Johnny Logan. A atuação foi arrebatadora, o desempenho igual, a canção já havia mostrado o poder e a força que tinha e a história assim se escreveu. Recuperando uma frase dita recentemente no mundo futebolístico: no final do campeonato, qualquer que seja o campeão, é um justo vencedor! E é isto que a Loreen é! As teorias da conspiração multiplicam-se, as teorias de plágio nascem como ervas daninhas e até há quem acuse que a atuação não trouxe nada de novo para a Eurovisão comparativamente ao que tinhamos visto no Melodifestivalen (E há algum mal nisto?): são os ossos do ofício de um duplo vencedor da Eurovisão. Felizmente, o talento ainda é das poucas coisas que o dinheiro não compra e a Loreen é das artistas mais talentosas que já passaram pelo Festival Eurovisão... goste-se ou não! 

Há coisas sagradas nas participações da Albânia no Festival Eurovisão que nunca podem ficar de fora: vermelho, fogo, etnicidade... e gritaria. (Não me cancelem, estou mesmo a brincar com as palavras!). Antes da semifinal, colocaria imediatamente "Duje" fora do lote de apurados. Contudo, conforme vi o primeiro ensaio geral da semifinal, disse sem qualquer dúvida que a canção estaria entre os primeiros classificados (falhei por muito, eu sei, mas passou à Final). A canção conseguiu levar para palco toda a força que nem eu sabia que a canção tinha e foi uma justa finalista, relembrando também que foi a 10.ª canção mais votada do televoto. Uma das surpresas da edição!

Itália. A minha sempre tão amada Itália. "Ah e tal tens sempre Itália nos primeiros lugares": é verdade, mas que hei eu fazer? Mudar de opinião para não ser tendencioso? Não, mas obrigado pela pergunta! Marco Mengoni é, desde 2013, um dos meus artistas favoritos para lá da esfera da Eurovisão, tendo acompanhado a sua carreira desde então, onde se duplicam as obras primas a que tem dado voz (até uma canção em português dedicada a Amália Rodrigues). E "Due Vide" tornou-se na minha favorita desde a primeira audição no Festival di Sanremo, tendo sido a única canção capaz de me levar às lágrimas em qualquer interpretação. Uma composição arrepiante, uma letra arrepiante, uma presença e uma voz só ao nível dos melhores: isto é ARTE! Para mim teria sido o vencedor da edição, não o escondo! E foi a primeira pessoa que me fez perder a vergonha do meu inglês (até vai em itálico...) para conseguir uma fotografia... Que momento bom este! Que três minutos de magia!

Seguiu-se a Estónia no alinhamento, tendo sido uma das minhas maiores surpresas na hora da votação. Com uma atuação bem conseguida e um desempenho vocal muito seguro e capaz (a Alika tem apenas 22 anos!!!!), a Estónia veio-nos mostrar, mais uma vez, que devemos dar o mesmo foco a todas as propostas e não ficar iludidos com os favoritos ou pseudo favoritos. Uma brilhante atuação que teve o apoio merecido de quem o devia dar (podia ter sido mais abragente, né?) e a primeira imagem do perigo deste novo sistema de votação: a oitava classificada na Grande Final apurou-se em décimo lugar numa das semifinais. Cuidado!

Habemus a Finlândia! Se há país que merecia um prémio nesta edição, este país seria a Finlândia. O irreverente Käärijä (que passou de rapper a cantor para este concurso) conseguiu pôr um continente em alvoroço com "Cha Cha Cha", uma canção que ninguém percebe a letra, além de piña colada. A roçar o rótulo de joke entrie, um olhar mais atento (e mesmo sem perceber a letra) percebe (se assim quiser...) o sentido da atuação e de quantas vezes não tivemos já momentos de Cha Cha Cha no nosso dia. Foi a mostra de que a diferença e a irreverência são bem-vindas ao Festival Eurovisão! Não ganhou, é um facto, e de pouco servem as vitórias morais neste tipo de competições: contudo, ficou a marca "Cha Cha Cha" nas lides eurovisivas e, sem dúvida, que Käärijä foi a personalidade da edição deste ano (e se dúvidas existirem, basta recuperarmos as imagens dos bastidores)! Óptima participação Finlândia!

Pela primeira vez a competir com a nova denominação, a Chéquia foi, até à primeira semifinal, uma das minhas maiores incógnitas, onde via facilmente a "My Sister's Crown" a ser das mais votadas (o que felizmente aconteceu!) ou a ficar no fundo da tabela classificativa (que felizmente não aconteceu). Com uma roupagem completamente diferente da que havíamos visto na final nacional e no videoclip, as Vesna tornaram uma canção bastante interessante numa atuação ainda mais interessante. De diferentes nacionalidades e a cantarem em diferentes línguas, as Vesna subiram juntas ao palco e com figurinos idênticos: para bom entendedor, meia palavra basta! Foi a luta pela liberdade e pela união em forma de canção!

Vencedores um tanto inesperados da primeira semifinal, os Voyager, representantes da Austrália, seguiram-se no palco da M&S Bank Arena com "Promise" a recordar os bons tempos musicais dos anos 80. Aquando do lançamento coloquei a canção no meu top10: contudo, com o passar do tempo, tornou-se num dos temas que me passava completamente despercebído. Se isto a torna uma má canção ou uma das piores da noite? Longe disso, apenas começou a ser-me completamente indiferente... Foi a favorita do júri português e a surpresa foi bastante criticada, tal como acontece quando os países são tendenciosos e nada tendenciosos na hora da votação. Afinal qualquer que seja a escolha de um júri ou de uma pessoa, nunca se consegue agradar a todos... Ainda assim, boa participação da Austrália (e com esperança de que não seja a última)!

Outra das surpresas da edição ou até a maior chapada de luva branca do ano: a Bélgica. O Gustaph venceu o Eurosong 2023 (onde era o meu último classificado, não o escondo) por apenas 1 ponto de vantagem e leu-se de tudo nas redes sociais. Contudo, depois de uma carreira atrás do palco a dar voz a outros talvez menos talentosos que o próprio, o cantor não desperdiçou a oportunidade da sua carreira e mostrou uma segurança acessível apenas aos grandes, com uma atuação que conseguiu cativar até o mais reticente a esta canção. É quase impossível ouvir este refrão sem começar a dançar (nem que seja um mero movimento de ombros) e foi dos melhores exemplos daquilo que é (ou devia ser) a Eurovisão. Das melhores atuações da noite!

Tivemos de seguida a Arménia e nem mesmo uma das mais talentosas artistas da edição conseguiu fazer-me gostar desta proposta. Desde a sua apresentação que "Future Lover" ficou longe de me agradar ou até de me convencer, mas sempre pensei que com o tempo tal mudasse... mas não mudou. E mesmo a atuação deixou um tanto aquém das expectativas, notando potencial para muito melhor daquilo que vi. Ainda assim, reconheço uma enorme qualidade nesta canção, mas não consigo mesmo gostar. Não a coloquei no top10 da semifinal (ainda que reconheça que seria um crime colocá-la de fora, se bem que o sexto lugar naquela eliminatória aproximou-se disto) e ficou muito longe dos meus favoritos da Grande Final. Se no meu gosto pesasse apenas a qualidade, teria sido das primeiras... Assim não o foi, com muita pena minha.

Outro dos repetentes deste ano veio da Moldávia. Presença assídua nas final nacionais para o Festival Eurovisão, Pasha Parfani venceu o Etapa Nationala  e "Soalare si luna" tornou-se numa das minhas canções favoritas do ano... até ter visto a atuação. Esperava uma atuação mais étnica e com mais cor do que aquela que vimos, onde alguns momentos roçaram o cringe e momentos cujo significado (se o têm) ainda estou para entender! Não foi uma má atuação, apenas tornou-se esquisita... A canção merecia melhor do que aquilo que teve, mas o produto final não! Mesmo assim, é uma das canções que figuram na minha playlist do ano!

Vencedores em título do Festival Eurovisão, a Ucrânia  foi o primeiro país a escolher a sua canção para o concurso deste ano. Longe das minhas favoritas desde sempre, "Heart of Steel" soube-me convencer ao longo dos meses e aproximou-se das minhas favoritas em várias ocasiões. Não sei se pelo facto de se afastar daquilo que tenho como uma típica canção da Ucrânia na Eurovisão, sempre senti uma espécie de pé atrás com esta proposta, ainda que tenha cumprido (e muito bem) a tarefa de representar a Ucrânia nesta Eurovisão tão especial para o país. No final da noite passou-me completamente ao lado e surpreendeu-me a classificação que acabou por obter. E porque nunca é demais repetir: Slava Ukraini!

Da fria Noruega veio outra das canções que pegou fogo à arena em Liverpool. Poderosa e intensa, mas também datada e um pouco cliché, "Queen of Kings" é a canção que mais carateriza a Eurovisão, ainda que haja sempre o perigo de reduzir o Festival a este tipo de canções (que, na minha opinião, são sempre muito bem vindos!). A força da canção acabou por colmatar a perda de força da atuação em palco, com o carisma e a alegria demonstrada pela Alessandra a ser outro dos pontos fortes destes três minutos. Um dos meus guilty pleasures dos próximos anos, garanto!

"Este ano, a Alemanha não fica nos últimos lugares" disse eu, inocentemente, num dos últimos lives no ESCPORTUGAL antes do Festival Eurovisão 2023. Passaram duas semanas e continuo sem perceber o que aconteceu em palco, que eu não tenha visto, para justificar esta classificação alemã. Reconheço que "Blood & Glitter" não seja uma canção de agrado fácil (está bem longe dos meus favoritos!) e que o público da banda provavelmente não se identifique com o formato, mas a Alemanha não merecia este último lugar na competição com uns míseros 18 pontos, especialmente depois da atuação onde mostraram que são uma banda de grandes palcos e de grandes públicos! Melhores dirão virão, esperamos nós!

Não dei grande importância à final nacional da Lituânia para o Festival Eurovisão, mas a escolha de Monika Linkyte foi das mais inesperadas do ano. Nunca lhe tento dado grande importância, mea culpa, admito que mudei completamente de opinião quando Monika a cantou para o ESCPORTUGAL em Barcelona. Um dos refrões mais viciantes do ano numa das canções que levou novamente a Lituânia à sua língua e à sua cultura, "Stay" chegou à Final do Festival Eurovisão no meu top10, ainda que longe de pensar que a canção poderia escapar aos últimos lugares da classificação. Felizmente, a Eurovisão ainda tem muito bom gosto!

Israel seguiu-se no alinhamento com "Unicorn" a chegar a Liverpool como uma das canções que mais despercebidas passou na minha playlist. E se na semifinal ainda pensei que tivesse dificuldades no apuramento, só percebi o verdadeiro potencial da proposta ao ver a atuação na televisão. Poderosa e intensa, e com uns dos melhores planos de câmara da edição, a atuação de Israel conseguiu cativar e surpreender ao alcançar um terceiro lugar no final das votações. Surpreendente? Muito! Inesperado? Talvez! Injusto? Nem pensar... Não a teria colocado no pódio, mas deixou uma marca na competição, abrindo claramente a era pós-Chanel! 

Escolhidos internamente pela emissora da Eslovénia, os Joker Out deixaram-me algumas dúvidas nos primeiros tempos, rapidamente dispersas com a revelação de "Carpe Diem" e as primeiras atuações ao vivo. De longe, os representantes eslovenos foram os candidatos que melhor souberam desfrutar da experiência eurovisiva dentro e fora do palco. Uma atuação muito descontraída, que talvez possa ter desiludido quem não conhece o histórico da banda, tendo dados dos melhores da Grande Final. Provavelmente a posição mais injusta (a par de outra que já lá vamos) desta edição!

Desde o início deste artigo, que tenho repetido que a Eurovisão tem espaço para todo o tipo de canções, até para canções como a da Croácia. Como eu também tenho espaço para esta canção no lote de canções que não gosto de ouvir! Estou a exagerar, admito! Mas a canção da Croácia causa-me uma série de reações e sentimentos que, sinceramente, não sei explicar nem perceber, se bem que talvez nem queira mesmo perceber. O apuramento croata deu-me um dos maiores sustos eurovisivos e, de trator, esta canção vai direitinha para o meu último lugar da noite. E sim, a Eurovisão tem espaço para estas canções... no fim da tabela!

A jogar em casa e com uma das canções mais catchys do ano, já previa o que iria acontecer com a proposta do Reino Unido no Final do Festival Eurovisão 2023. Sendo uma das mais fortes na versão estúdio, "I Wrote A Song" ficou a anos luz do seu potencial no palco da competição onde parecia que não estava a concurso e era apenas um interval act. Se mereceu? Não. Mas, a sério, mereceu? Se calhar... Tenho pena porque era uma das minhas favoritas do ano e ficou mesmo muito aquém, ainda que tenha sido das melhores propostas do Reino Unido desde há muito tempo.

E terminado o alinhamento, tivemos a abertura das linhas e os principais momentos musicais extra-competição (sim, eu sei que não falei ainda de Portugal, mas já lá vou!). Sam Ryder, o segundo classificado em Turim, abriu as atuações, com a BBC a homenagear a cidade de Liverpool, que tão bem recebeu a Eurovisão deste ano, com uma série de interpretações de históricos do concurso a darem voz a temas ligados à cidade que viu nascer os Beattles. E não querendo hierarquizar nenhuma das atuações, destaque para o momento final da atuação de Duncan Laurence, que voltou a mostrar a união para com o povo ucraniano. E o momento entre Alesha Dixon e a ucraniana Julia Sanina, que pode ter passado despercebido, retratou o sentimento que todos nós sentimos para com a Ucrânia!

E Portugal! Todos os anos, a mesma história. Nunca escondo o orgulho nos nossos representantes, cada um há sua maneira, mas, este ano, o sentimento foi ainda mais intenso. Apesar de ter sido a primeira vez que a minha favorita do Festival da Canção chegou ao Festival Eurovisão, desde cedo que Mimicat mostrou que não queria ser apenas mais uma concorrente neste concurso. Talvez por lutar por este lugar ao sol há mais de 20 anos, a cantora envolveu-se com a comunidade eurovisiva como nunca havíamos visto e relembrou-nos que o Festival Eurovisão 2023 é muito mais do que um concurso de canções!

Sem sofá (juro que já não se aguentava a conversa do sofá!), Mimicat subiu ao palco com um país, que sempre a ignorou, de olhos postos nela, fazendo das tripas coração e a deixar um Portugal orgulhoso como nunca dos seus representantes, ainda que o resultado tenha sido muito aquém daquilo que era MERECIDO. E isto é raro de acontecer, basta olharmos para o nosso recente histórico na Eurovisão. Serei o primeiro signatário da petição a pedir uma Mimicat todos os anos e serei o último a esquecer-me dos tãos bons momentos que estes cinco me deram a Liverpool. Obrigado Mimicat! Obrigado Duartes, Inês e Vanda! Obrigado por terem enchido este país de orgulho tal como conseguiram encher aquele palco! Que orgulho foi sentir todo o público da Eurovisão a vibrar com uma canção nossa e a mostrar que Portugal é muito mais do que canções mais melancólicas. E o momento da Mimicat a desfilar naquele palco, desafiando o público, está apenas ao nível dos grandes! E a Mimicat é uma delas! Que orgulho senti nesta participação! Obrigado Mimicat por me deixares sonhar mais uma vez!

E et voilá! Passadas duas semanas da Grande Final, eis o meu top 26 da Grande Final do Festival Eurovisão 2023:

1.º Itália
2.º Suécia
3.º Finlândia
4.º Chipre
5.º Noruega
6.º Portugal
7.º Lituânia
8.º Espanha
9.º Eslovénia
10.º Chéquia
11.º Israel
12.º França
13.º Ucrânia
14.º Moldávia
15.º Estónia
16.º Bélgica
17.º Áustria
18.º Albânia
19.º Suíça
20.º Reino Unido
21.º Austrália
22.º Arménia
23.º Alemanha
24.º Polónia
25.º Sérvia
26.º Croácia

Agora é tempo de fechar o capítulo Liverpool neste meu livro eurovisivo onde se vão acumulando várias aventuras, com a Suécia (Estocolmo? Malmö? Gotemburgo?) já à espreita. Mas também é tempo de agradecer a todos aqueles que vibraram e acompanharam esta Eurovisão connosco e que fizeram chegar-nos algumas mensagens durante aqueles dias. O que fazemos diariamente aqui é, para além de ser algo que gostamos, algo para que todos possam desfrutar do verdadeiro espírito da Eurovisão da melhor maneira. Porque, na verdade, a Eurovisão é apenas um concurso de canções. O que realmente importa é o que está para além disto! Até para o ano!

Artigo de Opinião de Nuno Carrilho

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Fonte: ESCPORTUGAL / Imagem e Vídeo: Eurovision.tv
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  1. Anónimo20:42

    Obrigado Nuno. Concordo com quase tudo 😊. E o que não concordo é opinião pessoal minha.

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  2. Anónimo13:17

    Obrigado Nuno Galopim, são sempre bem-vindos os seus comentários. Até 2024

    ResponderEliminar
  3. Dan Carv21:00

    Mais uma vez aqui temos a opinião do Nuno Carrilho pós-festival, sempre honesta e de fácil compreensão. A minha opinião resume-se em breves palavras porque vem praticamente na senda dos últimos anos em que eu ando a pregar no deserto ao afirmar que a grande maioria das canções são boas para a lixeira e cada vez há menos transparência no que respeita à votação dos vencedores. Já estava há muito tempo no papel que a ganhadora deste ano teria que ser a Suécia e por motivos óbvios.

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  4. Paulo Morais04:44

    Como sempre um fantástico artigo!🍾☀️

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