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Marcelo Rebelo de Sousa: "Por detrás de uma grande figura da cultura estava um grande homem"

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu, em declarações à RTP, ao falecimento do fadista Carlos do Carmo: "Por detrás de uma grande figura da cultura estava um grande homem, com uma grande riqueza pessoal, uma sensibilidade e uma intuição e identificação com o povo português que o povo português não esquece".


Marcelo Rebelo de Sousa reagiu, esta manhã, à notícia da morte do fadista Carlos do Carmo, representante de Portugal no Festival Eurovisão 1976. Em declarações à RTP, o Presidente da República disse ter recebido a notícia com uma reação idêntica "à de todos os portugueses", "uma reação de perda": "Perda por aquilo que Carlos do Carmo fez pela consagração do fado como património imaterial da Humanidade, mas também pelo que deu como voz de Portugal cá dentro e lá fora junto das comunidades portuguesas, prestigiando não apenas o fado, mas a nossa cultura".

Além disso, Marcelo realçou também "a voz ativa" de Carlos do Carmo na luta pela liberdade durante a ditadura e na transição para a democracia, "Por detrás de uma grande figura da cultura estava um grande homem, com uma grande riqueza pessoal, uma sensibilidade e uma intuição e identificação com o povo português que o povo português não esquece", frisando o simbolismo da data do falecimento do artista, "num dia que devia ser de esperança (...) não podemos encarar a morte como desesperança, mas como uma homenagem a alguém que nunca perdia a esperança".

Posteriormente, Marcelo Rebelo de Sousa lançou, através do site da Presidência da República, uma nota de pesar pelo falecimento do artista português, que transcrevemos na íntegra:

"Carlos do Carmo foi uma das grandes figuras do fado e da dignidade do fado.

Dignidade do texto, da qualidade do texto, da dicção, do dizer. Dignidade de uma vocação exigente, sem cedências e vedetismos. Dignidade de uma atenção humana, de uma compaixão, uma empatia de «homem na cidade» ao lado dos outros homens e mulheres.

Filho da fadista Lucília do Carmo, lisboeta da Bica, estudou na Suíça, ganhando cedo um cosmopolitismo que nunca contrapôs ao patriotismo. Teve uma vida profissional fora do fado, mas acabou por voltar ao seu mundo familiar, gerindo a casa de fados “O Faia” e atuando ocasionalmente como fadista, carreira que viria a assumir em 1964.

O seu conhecimento direto do fado popular, ligado à sofisticação de um melómano que acompanhava a música do mundo, bem como o seu estilo límpido, levaram a que obtivesse reconhecimento público e crítico logo no primeiro disco que gravou, nas décadas de 1960 e 1970. No Festival da Canção de 1976 foi o único intérprete de todas as canções concorrentes, e no ano seguinte editou aquele que é o mais conhecido dos seus discos com Ary dos Santos, “Um Homem na Cidade”. Com Ary, manteve colaboração fiel e produtiva, que deu origem a fados que nos parecem hoje imemoriais, como «Lisboa, Menina e Moça».

Muitos outros foram os letristas e poetas que musicou, que desafiou para o fado, privilegiando sempre a palavra. Tendo atuado com grande sucesso em palcos de todo o mundo, Carlos do Carmo contribuiu muito para a divulgação internacional do fado, nomeadamente com a participação no filme “Fado” (pelo qual ganhou um prémio Goya), com a campanha pelo reconhecimento do fado como Património Imaterial da Humanidade, e com o Grammy Latino de Carreira que lhe foi concedido em 2014.

Homem do rigor e da generosidade, dedicou-se nos últimos anos a gravar discos e a cantar ao vivo com outros músicos, do jazz e de fora do jazz. A sua relação com o público, de afeto e respeito mútuos, foi notória até ao fim, no concerto do Coliseu dos Recreios em 2019, onde pude uma última vez aplaudi-lo e congratulá-lo, depois de já o ter feito oficialmente, em 2016, com a atribuição do grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.

À sua família, e em particular à tão amada companheira de uma vida, Maria Judite, apresento os meus sentimentos de pesar, saudade e gratidão."


Escolhido internamente pela RTP, Carlos do Carmo foi o responsável pela interpretação de todas as canções do Festival da Canção de 1976. "Uma Flor de Verde Pinho" foi a escolhida para representar Portugal no Festival Eurovisão, terminando em 12.º lugar com 24 pontos, recebendo a pontuação máxima de França.


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Fonte: Sapo / Imagem: Google Vìdeo: Youtube
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