Todas as semanas no ESCPORTUGAL, a crítica aos álbuns editados por artistas que participaram no concurso Eurovisão da Canção e/ou seleções nacionais ao longo dos anos.
Esta semana, a 'Zona de Discos' é especial e em jeito de homenagem recai numa análise sobre a discografia de Dina. O critério de seleção do material a ser aqui disseminado foi o trabalho lançado em registo de longa-duração, independentemente de ser um álbum de originais ou compilação.
O responsável da rubrica é Carlos Carvalho.
Desde os meus 10 anos de idade, 1991, meses antes do FDC 1992, que sou um grande apreciador da sua obra, mais concretamente desde a apresentação de 'Acordei o Vento', no 'ET - Entretimento Total', de Júlio Isidro. Desde então, todos os seus registos foram, sem exceção, por mim consumidos e desfrutados de forma continuada ao longo de todos estes anos, desde o momento em iam sendo lançados. Da apreciação do material outrora novo à vontade de querer descobrir as gravações que tinham sido lançadas nos anos 80 foi um passo natural. Assim,
foi com enorme tristeza que recebi a notícia do seu adeus no final da semana passada. Deste modo, resolvi reservar este 'Zona de Discos' à Dina. Uma revisão e uma leitura de um ponto de vista pessoal
e crítico, da herança musical que se encontra disponível através do formato
álbum.
Dinamite
(1982)
Num olhar retrospectivo de 37 anos, o universo da música portuguesa, no ano de 1982, significa, sobretudo, Patchouly do Grupo de Baile ou Amor dos Heróis do Mar, mas foi também
em 1982 que Dina, embora longe do mediatismo merecido, lança um dos álbuns que
define a moderna música portuguesa de então, Dinamite.
Composto por 8 faixas e com o
selo da Polygram, Dinamite
reivindicava, em termos sonoros, a equiparação de Portugal com o que de melhor
se fazia nos grandes mercados internacionais. Com contornos claramente pop, o
álbum situa-se algures entre a synthpop, new wave e funk (não esquecendo as
baladas) e foi a nossa resposta a Girls
on film dos Duran Duran ou Kids in
America (1981) de Kim Wilde. Contudo, o álbum “foi morto” pela própria
editora, ao enviar três canções, sem o conhecimento de Dina, para o Festival da
Canção, ficando, assim, o disco limitado e estigmatizado a Gosto do teu gosto, ofuscando o verdadeiro explosivo do álbum, como,
por exemplo, Isso é que era bom ou Nem mais.
Em junho de 2018, o 'Zona de Discos' foi dedicado à análise de 'Dinamite', aquando do seu relançamento em vinil. Pode recordar o artigo AQUI.
Aqui
e Agora (1991)
Foram necessários quase 10 anos para Aqui
e Agora (lançado pela UPAV) ver a luz do dia. Apesar do sucesso radiofónico de Acordei o Vento, não houve repercussão
comercial e aí surge a ideia para voltar ao festival da canção com um objectivo
claramente definido, ganhar.
Aqui acontece o primeiro erro da
UPAV. Lançado em single e cassete, Amor
d’água fresca nunca fez parte de um álbum. Não teria sido uma boa ideia aproveitar
a boleia do tema eurovisivo e fazer uma re-edição de Aqui e Agora com a inclusão do
novo sucesso? Composto por nove canções, Aqui
e Agora é imperdível pelos temas Suco
açucar e A cor da vida, acorda vida, pois
além de serem dois dos melhores temas de Dina, são composições que se encontram
lançadas somente no segundo álbum de Dina e na
cassete referida anteriormente, encontrando-se ambos os produtos descatalogados
e fora de mercado.
Guardado
em mim (1993)
Em 1993, agora com o selo da VIDISCO,
Dina lança aquele que é, para mim, a sua melhor obra e o seu disco
verdadeiramente intemporal, Guardado em
Mim. É intemporal no sentido em que se trata de um “disco de banda”,
orgânico, que foi gravado em 1993, mas que podia ter sido gravado e lançado em
2016 (com a devida actualização de remasterização). Composto essencialmente por
temas de Dinamite e Aqui e Agora, todas as composições (sem
exceção) ganham uma nova vida, com muito mais pujança e provavelmente muito
mais fiéis ao ímpeto criativo original. Por ser altamente recomendável, é
difícil destacar apenas dois ou três momentos, mas aqui vai uma tentativa: a novas versões de
Nem mais e Que vamos nós fazer (os meus temas preferidos de Dina) e o original
Voar outra vez.
Sentidos
(1997)
Sem o devido apoio da VIDISCO
(talvez por ser uma editora muito ligada a colectâneas de dança e ao denominado
movimento pimba), Guardado em Mim
passa ao lado dos grandes feitos comerciais e tivemos de esperar 4 anos para um
novo lançamento. Sentidos, lançado em
1997, pela Ovação, é um disco que não pode ser ignorado por nenhum seguidor de
Dina, não só por ser o último registo de originais mas por ser também aquele
que melhor espelha a essência musical de Ondina Veloso. Os nomes de Luís
Fernando (guitarras e produção) e Sertório (na bateria) associados às
composições de Dina e letras de Rosa de Lobato de Faria converteram-se num
casamento perfeito entre melodia e sensibilidade alicerçado em cânones rock.
Beleza é o fio condutor presente neste apuramento sonoro do seu legado artístico. Depois de Mim foi sempre a minha
predileta, mas é impossível resistir a qualquer momento deste longa-duração.
Para quem ainda não o conhece, recomenda-se, como iniciação, Carregal do Sal, Tafetá, Ai a Noite
(concorrente ao Festival da Canção 1996, na voz de Elaisa) e De Manhã. Uma vez mais, o selo editorial
teve grande responsabilidade pela não projecção do álbum.
O
melhor de 2 (Dina / Mário Mata), 2001
Em 2001, inserida colecção O Melhor de 2, a Polygram lança O Melhor de Dina. Não se trata de mais
do mesmo, uma vez que é aqui que se encontra, pela primeira vez, reunidos em
cd, os primeiros quatro singles, destacando-se as versões originais de Guardado em mim, Pássaro doido
e o mistério do Festival da Canção 1981 e imensamente popular Há sempre música entre nós.
Guardado
em mim (2002)
Em 2002, Dina consegue o primeiro
disco de ouro (20 000 cópias vendidas) através da Banda Sonora da telenovela Filha do mar. Tema principal da referida
obra de ficção, e consequentemente banda sonora, Que é de ti lança a compilação para o primeiro lugar do top
nacional vendas (domínio das colectâneas) e a carreira de Dina ganha um novo
impulso.
O novo impulso é (mal)
aproveitado pela VIDISCO. Ainda em 2002, a referida editora relança uma versão
actualizada da compilação Guardado em mim (lançada originalmente em
1993). Entre as novidades, para além de um novo artwork, destacam-se a inclusão de Amor d´água fresca (tema pela primeira vez inserido num álbum de
Dina). No campo das falhas, a ausência de Que
é de ti e a promoção nula.
Da
cor da vida, o melhor de Dina (2008)
A lacuna promocional foi
finalmente (embora de modo parcial) colmatada em 2008, por intermédio da editora
Farol. A colectânea Da cor da vida, o
melhor de Dina é a retrospectiva mais completa de Dina. Composto por 20
temas, o disco teve direito a spot publicitário televisivo, reportagens em
noticiários, alcançando o #42 no top oficial de vendas. Promovido pelo original
Esta manhã em Lisboa, tudo indicava
que esta compilação era a ponte para um tão aguardado disco de originais….. que
não chegou a acontecer (embora supostamente haja material gravado e provavelmente muito na gaveta).
A obra continua...
Mal amada pelo companhias
discográficas, Dina foi sempre acarinhada pelo público e grandemente elogiada
por artistas do meio musical. Foi precisamente este último grupo, mais
precisamente uma nova geração de músicos de alta qualidade e vertente
alternativa, a que se deveu um novo interesse público pela obra de Dina e a
uma digna comemoração dos 40 anos de carreira e despedida dos palcos.
Da parte das editoras, a
Universal deve-nos uma re-edição de luxo de Dinamite
(com os bónus que os fãs tanto adoram), e todo o seu catálogo devia ser
re-editado ou pelo menos sujeito a uma compilação, não apenas mais uma, mas sim
uma que finalmente dignifique o nome de Dina.
Em relação aos temas que se
encontram espalhados pelas bandas sonoras de várias telenovelas, devíamos
seguir o exemplo brasileiro e aglomerar todo esse legado. Não foi isso que se
fez para o disco Novelas de Caetano Veloso?
O meio musical português ficará
mais pobre, a Artista já não está fisicamente presente mas a sua música ficará para sempre entre nós. Estou triste, mas OBRIGADO, Dina, por toda a música!
Pode ouvir alguns dos lançamentos de Dina AQUI.
Obrigado homónimo, por este belo tributo à nossa Dina.
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