Realizou-se ao longo do dia de ontem, no Auditório 1 do Pavilhão Principal da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a Eurovision Conference. O ESC Portugal acompanhou os trabalhos durante a manhã e conta-lhe como foi.
Iniciativa promovida pela FCSH e com organização do Instituto de Etnomusicologia (INET-md) e da OGAE Portugal, a conferência abriu um espaço de discussão na vertente académica e cultural, juntamente com um núcleo alargado composto por músicos, jornalistas, investigadores e fãs do fenómeno da Eurovisão e do Festival da Canção, num momento em que Portugal se prepara para receber, pela primeira vez, o Eurovision Song Contest em Lisboa, já no próximo mês de maio.
OGAE, Os Fãs - Os Motores do Festival |
"Qual é o perfil do fã da Eurovisão?". Foi o mote de lançamento desta conferência, a cargo da OGAE Portugal, na voz do seu Presidente, José Garcia, bem como na voz de Simon Bennet, Presidente da OGAE Internacional, através de videoconferência. “Segundo um levantamento levado a cabo há uns anos, podemos afirmar que o perfil de fã da Eurovisão, em Portugal, se encontra na faixa etária entre os 30 e os 40 anos de idade.”, afirmou José Garcia, “obviamente que levantamento foi levado a cabo há já alguns anos, provavelmente estes dados, à data de hoje, poderão ser ligeiramente diferentes, podemos estar a falar agora de 40 a 50 anos de idade”. José Garcia lamenta-se pelo facto de ainda existir uma porção considerável de fãs que não se encontram associados à OGAE Portugal, uma realidade da qual diz “ter a perfeita noção", deixando o apelo para “se juntarem, uma vez que, ao fazê-lo, estaremos a melhorar a nossa influência junto das entidades responsáveis, nomeadamente a RTP e, com isso, termos uma voz mais ativa em todo o processo que envolve a escolha e o método para selecionar o intérprete e a canção que representa Portugal na Eurovisão”.
1.ª Sessão - Many Goals and One Eurovision:
Conflicting Interests in Europe's Biggest TV Show (Wolther, Irving)
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Passando esta parte introdutório, é aberto o espaço de debate com o início da primeira sessão, que contou com a presença de Irving Wolther, professor na Universidade de Hanover e colaborador ad-hoc da NRD, emissora pública de televisão alemã, para assuntos relacionados com a Eurovisão. Na sua intervenção discutiu-se o papel da Eurovisão no espaço europeu, bem como a de uma montra de pujança tecnológica para as cadeias públicas europeias de televisão, enquanto catalizador das novas tecnologias em televisão. Segundo dados obtidos por este investigador, a idade média dos telespectadores na Europa tem vindo a aumentar consideravelmente, com uma média de idade superior 60 anos em muitos países, reforçando a importância do ESC na captação de um público mais jovem. No final da sua intervenção, o investigador deixou no ar a possibilidade de virmos a assistir a grandes mudanças na Eurovisão nos próximos anos, nomeadamente a introdução de novas tecnologias como o 3D e a realidade virtual, como forma de melhorar a experiência do grande público, os telespectadores, que representam o maior stakeholder do ESC.
2.ª Sessão - Bem Bom! As Doce e a Invenção da
Pop Televisiva (Cardão, Marcos)
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Numa vertente mais interna, seguiu-se a segunda sessão, com intervenção do Professor Marcos Cardão, do Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa e cujo estudo se centra na evolução da sociedade portuguesa através do exemplo do fenómeno musical das “Doce”, pujante girls band portuguesa dos anos 80, participante em 4 edições do Festival da Canção e vencedoras da edição de 1982 com o tema “Bem Bom”. Neste estudo as “Doce” são vistas na perspetiva de um caso de sucesso do movimento feminista em Portugal, num país ainda a curar as feridas de um regime conservador e fechado, onde as mulheres tinham um papel menor e secundário.
3.ª Sessão - Portugal Meu Jardim: Portugal e a
Portugalidade no Festival RTP da Canção (Lopes, Sofia)
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O colóquio continua com a terceira sessão, desta feita com Sofia Vieira Lopes, uma das principais promotoras desta conferência e que veio abordar a temática da portugalidade no Festival da Canção e, por consequência na Eurovisão. Através da criação de pontes para temáticas do universo do desporto e da música, nesta apresentação verificou-se a influência do sucesso internacional recente de Portugal no desporto e na música na mudança da imagem e percepção do país pelos estrangeiros e, acima de tudo, pelos próprios portugueses, colocando em causa o paradigma associado à baixa auto-estima portuguesa. Ideia esta, fundamentada em questões bem reais, materializada através de um vídeo que circulou pelas redes sociais pouco após a vitória de Salvador Sobral na Eurovisão.
O fim da manhã aproxima-se com a quarta sessão, na pessoa de Jorge Mangorrinha, arquiteto de formação e com outros conhecimentos de área do saber como turismo e música, letrista da canção “Um Fado Em Viena”, interpretado na voz de Teresa Radamanto no Festival da Canção de 2015 e que ficou em 2.º lugar. Nesta sessão foi possível perceber navegar um pouco pela história do próprio Festival da Canção e de como o próprio tem sido o portador de novidades no espetro televisivo, fazendo referências à inauguração das emissões regulares a cores em 1980, nessa edição do Festival da Canção.
5.ª Sessão: Um Programa de Televisão, Um Mar de Oportunidades |
A manhã chega ao fim com a quinta sessão, com a palavra de Gonçalo Madaíl na qualidade de Diretor da RTP Memória e Sub-Diretor da RTP e ainda de Diretor Criativo do ESC 2018. Sob o mote 'Um programa de televisão, um mar de oportunidades', o responsável da RTP, sem qualquer curadoria e com toda a sinceridade, afirmou que sempre se mostrou reticente em assumir a pasta do Festival da Canção e que, há muitos anos esse convite já havia sido feito e que sempre recusou por “ser um universo que nada me dizia e que, perdoem-me com toda a franqueza, me fazia até alguma espécime”, aceitando apenas em 2017 “após ter sido feito aquele ‘reset’, que era preciso.”, bem como ao facto da RTP ter tido a humildade em reconhecer que “isto é um trabalho que vai muito para além da RTP e dos seus colaboradores e que, para bem do Festival, era necessário ir buscar ajuda fora àqueles que estão em contactos com os nossos artistas de forma a trazê-los e convencê-los”, o que admite não ter sido fácil, principalmente em 2017, “sempre que estabelecíamos contacto com algum artista para participar, a primeira pergunta que nos faziam era ‘Quem é que vocês já convidaram?’, isto porque, quer queiramos ou não, a imagem pejorativa que foi criado em torno do Festival ao longo da última década não era algo a que os artistas se queriam associar, não tendo garantias que estavam a participar com nomes da nossa praça”.
Refletindo ainda na experiência que está a ser organizar o ESC, afirma que “tudo está a correr conforme o esperado e temos sido sobejamente elogiados pelo nosso trabalho por parte da EBU”, afirmando-se um pouco incomodado com algumas das polémicas que se instalaram na praça pública em torno do facto do núcleo forte estar na responsabilidade de estrangeiros “sei que existe algum desconforto por haver alguns nomes estrangeiros." Falando no caso de alguns responsáveis estrangeiros que estão a trabalhar no projeto, "Sei que há comentários do género ‘lá vêm os suecos meter o nariz em tudo!’, mas é preciso dizer que por detrás de um sueco está uma equipa de 60 ou 70 portugueses. É importante termos as pessoas com o ‘know-how’, que já passaram pela experiência e, acima de tudo, é importante para as equipas de portugueses que trabalham sob a sua direção pois estão a adquirir conhecimento e formação em áreas de saber que até agora para nós eram completamente desconhecidas. É muito importante para Portugal e para os nossos colaboradores poderem ter a oportunidade de aprender com quem já está nisto há muitos anos”. Para o Diretor da RTP o principal desafio tem sido manter a disciplina orçamental, mostrando o desejo de lograr fazer um ESC eficiente “não só pela RTP, por ser uma envergadura enorme que está a pressionar de forma significativa os recursos da RTP, mas também para deixar um ‘benchmark’ para o futuro, na eventualidade de outros países com níveis de desenvolvimento mais baixos ganharem a Eurovisão, poderem-se apoiar no nosso exemplo para receber este evento sem grandes percalços e numa ótica de contenção orçamental, sem pôr em causa a qualidade do espetáculo em si, porque a verdade, e eu sei disso, existem muitos países a concurso com medo de vencer a Eurovisão por esta mesma razão.”.
Deu-se assim por terminada a presença e cobertura do ESC Portugal nesta conferência, congratulando os responsáveis pela existência de um espaço alargado de debatem, bem como a mobilização do meio académico e civil para esta temática. Fique com algumas fotos dos bastidores desta conferência.
Fonte / Imagens: ESC Portugal
Depois de tudo isto, aos meus 42 anos apenas resta dizer que: Se não pertenço ao OGAE Portugal é porque não existe informação por parte de dicha OGAE.
ResponderEliminarDe referir que pertenço a outra OGAE.
Uma solução estaria directamente ligada com esta fantástica página escportugal.
O escportugal é a página prefeita para publicitar-se já que OGAE e ESC siguem a mesma linha de interesse e tambem a prefeita forma de criar um acesso directo a uma página de e para sócios OGAEPortugal. Como afiliar-se????
Gostei muito da entrada do Gonçalo Madail no fc. Uma grande aquisição
ResponderEliminarPudera...como é que a Escportugal/Ogae Portugal podem ter mais fãs associados?
ResponderEliminarSó fazem eventos em Lisboa ou então vão para as universidades...
E queriam que eles fizessem eventos onde?
EliminarCaro anónimo das 00:19: o ESCPORTUGAL é um site independente, não fazendo parte integrante de qualquer clube ou associação. A nossa linha editorial pode ser encontrada em rodapé. Naturalmente que divulgamos todos os eventos que podem ser de interesse dos fãs do FC e ESC
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