Com apenas 20 anos e a poucos meses depois de ser mãe, Lena d'Água inicia uma carreira musical que viria a marcar o panorama e a história da música portuguesa, especialmente nas décadas de 80 e 90, tornando-se a primeira vocalista feminina a integrar uma banda de rock em Portugal: os Beatnicks. A cantora integrou a delegação portuguesa do Festival Eurovisão em 1978, evento que lhe traz excelentes recordações. Lena d’Água participa este ano no Festival da Canção. Feliz propósito para falar com o ESCPORTUGAL , numa entrevista concedida especialmente para os nossos leitores.
Um documentário sobre a vida e carreira de Lena d`Água, intitulado “A Bela Adormecida”, realizado há 6 anos no âmbito do curso de licenciatura em Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia da Universidade Lusófona, foi o mote para que o músico e compositor Pedro Silva Martins contactasse a artista. “Depois de ver esse documentário, que estava feito de forma muito especial, o Pedro contactou-me. ‘Achei incrível o que vi, quero compor para ti’, disse-me na altura”. Foi, desta forma que Lena d´Água começou a sua entrevista com o ESCPORTUGAL, numa conversa que decorreu na tarde do passado sábado na zona do Oeste, onde vive atualmente. “É claro que fiquei muito satisfeita”, continuou a recordar. “O Pedro já tinha escrito grandes canções para a Ana Moura, o Zambujo, para além dos Deolinda claro… era espetacular poder trabalhar com ele”.
O tempo foi passando e eis que em outubro passado novo contacto faz Lena d’Água soltar uma gargalhada: “Atirei-me ao ar a rir quando ele me convida para participar no Festival da Canção”. Depois de voltar a aterrar, decide aceitar o convite sem hesitar. “Bora lá, porque não? Sem medos! Pelo menos não tenho 70 ou 80 anos! (risos)” E de imediato “lembrei-me daquelas velhinhas super queridas que representaram a Rússia em 2012" (risos) Foi incrível – completou - até porque o convite reacendeu o desejo mútuo de fazermos um disco”.
Lena d`Água é de riso fácil, de conversa calma, de apego rápido. Durante mais de uma hora, houve tempo para recordar um pouco da longa carreira da artista, que atravessou várias gerações de portugueses. Uma carreira que também passou pelo Festival da Canção: “Para mim tudo começou em 1976, ano em que integrei a minha primeira banda, os Beatnicks, como vocalista. Fui ouvida pelo produtor musical António Moniz Pereira e por isso recebi convite para fazer as vozes dos Gemini em 78. A minha carreira já estava lançada nessa altura. Fui acompanhando o Festival ao longo dos anos, mas sem nunca ter pensado em participar como concorrente”. A vitória sorriu aos Gemini e eis que viaja para a Eurovisão, que nesse ano decorreu em Paris. “Tenho imensas memórias desse festival”, afirma sem hesitar. “Essa viagem a Paris foi encantadora”, exclamou. “Como não fazia parte do grupo principal, não tinha de participar em todos os eventos da delegação… estava mais livre (risos). Então calcorreei aquelas ruas, andei imenso de metro, visitei museus e parques, foi lindo!” No ensaio no palco do Palácio de Congressos outra experiência inesquecível. “No ensaio com aquela super orquestra, naquela parte com os violinos, atirei a voz lá pra cima e, de repente, 50 músicos viraram a cabeça e olharam para mim! Bem… até estremeci!” (risos).
Em 1980, é convidada a participar no Festival em nome próprio. A canção “Olá cega rega” de autoria de Paulo de Carvalho, não chegou a ser qualificada para a final. Mas isso não lhe deixou qualquer mágoa. “Era uma canção que gozava com o festival e não passou (risos)”. Em vez disso, novo convite para os coros: em conjunto com Lara Li participa na canção “Lição de português” interpretada por Madi. Mais tarde, “o Zé da Ponte, o Luís Pedro e eu escrevemos uma canção para o festival chamada ‘Doce de maçã’, mas achou a RTP que não era festivaleira e não foi selecionada.”
Desde então, o festival tem estado afastado da sua carreira, mas não da sua memória. “O Festival tinha uma importância enorme no tempo em que eu era criança. Assisti ao nosso primeiro ano na Eurovisão, aquele em que o António Calvário cantou a “Oração”. Lembro-me de ter chorado porque não tivemos nem sequer um pontinho… eu tinha 7 anos. O meu pai jogava no Áustria Viena em 1964, vivíamos lá nessa altura”. E as páginas do livro de recordações continuam a ser desfolhadas. “Uns anos depois, a canção do Carlos Mendes “Verão” foi uma delícia para nós, uma novidade, uma coisa tão moderna num tempo tão cinzento como era Portugal em 1968. Eu tinha 11 anos. Foi inesquecível!”
Sobre o Festival podíamos ter estado horas a conversar, pois as recordações que guarda são mais do que muitas! Mas preferimos falar de alguns momentos da sua carreira, como o facto de ter sido a primeira artista portuguesa a ver um videoclip seu passar num canal internacional de música. “Claro que me lembro do programa ‘Countdown’ e do inesquecível Adam Curry [o apresentador]. O programa era transmitido da Holanda para toda a Europa e a audiência em Portugal era enorme”.
Recuperámos esse famoso videoclip da canção “Dou-te um doce” de 1986:
Voltemos a 2017. “O Pedro da Silva Martins está a escrever e a compor especialmente para mim. Era assim que o Luís Pedro Fonseca fazia… desde então nunca tinha tido alguém que escrevesse desta forma. Não há melhor… não tem preço”. O álbum está em fase de composição, sendo que três das suas faixas estão concluídas. “Escolhemos este tema para o festival porque achamos que é o mais bem-disposto, divertido… é solar! Tem uma mensagem de esperança, de olhar sempre para o lado positivo das coisas”.
O título da canção não podia ser mais adequado - “Nunca me fui embora” – e Lena d’Água explica porquê: “Nos últimos 20 anos, sempre que ia cantar, seja jazz, rock ou pop, apresentavam-me como “o grande regresso de Lena d’Água!” e eu pensava “Mas eu nunca me fui embora!” (risos). “Sempre vivi da música, nunca tive outra profissão”, esclarece. Nos anos 90 fez um disco e fez concertos durante 7 anos com o projecto de Pedro Osório com Rita Guerra e Helena Vieira «As Canções do Século». Nos anos 2000 dedicou-se ao jazz, cantou Billie Holiday e Elis Regina e gravou um CD/DVD ao vivo na mítica sala lisboeta Hot Clube de Portugal, ao qual chamou 'Sempre'. Mais recentemente recriou os seus temas dos anos 80 com uma banda de rock de nome Rock’n’Roll Station, com quem gravou o álbum Carrossel. Cantou ainda com as bandas They’re Heading West e Benjamim, cujos músicos vão participar também na atuação do Festival RTP 2017.
Veja uma das muitas versões de um dos maiores hits da carreira de Lena d’Água:
Expectativas para o festival? “Em primeiro lugar, quero passar à final”, diz com certeza. “Não conheço as outras canções para poder comparar, mas sei que tenho um tema divertido”. Aliás, “estou a achar muita graça participar no Festival da Canção” E se ganhar o festival?, perguntámos. “Aí levo um grande susto!” (risos).
Confrontámos a artista com os restantes concorrentes, muitos dos quais saídos de programas de caça-talentos. “Se ganhar algum deles, ficarei feliz por eles. Ganhar o The Voice ou o X Factor é uma coisa muito forte, mas acaba num instante!”
No ano em que a RTP festeja 60 anos, Lena d´Água tem a mesma idade. “Ainda dizem que não há coincidências!”, termina com mais uma gargalhada.
O tempo foi passando e eis que em outubro passado novo contacto faz Lena d’Água soltar uma gargalhada: “Atirei-me ao ar a rir quando ele me convida para participar no Festival da Canção”. Depois de voltar a aterrar, decide aceitar o convite sem hesitar. “Bora lá, porque não? Sem medos! Pelo menos não tenho 70 ou 80 anos! (risos)” E de imediato “lembrei-me daquelas velhinhas super queridas que representaram a Rússia em 2012" (risos) Foi incrível – completou - até porque o convite reacendeu o desejo mútuo de fazermos um disco”.
Lena d`Água é de riso fácil, de conversa calma, de apego rápido. Durante mais de uma hora, houve tempo para recordar um pouco da longa carreira da artista, que atravessou várias gerações de portugueses. Uma carreira que também passou pelo Festival da Canção: “Para mim tudo começou em 1976, ano em que integrei a minha primeira banda, os Beatnicks, como vocalista. Fui ouvida pelo produtor musical António Moniz Pereira e por isso recebi convite para fazer as vozes dos Gemini em 78. A minha carreira já estava lançada nessa altura. Fui acompanhando o Festival ao longo dos anos, mas sem nunca ter pensado em participar como concorrente”. A vitória sorriu aos Gemini e eis que viaja para a Eurovisão, que nesse ano decorreu em Paris. “Tenho imensas memórias desse festival”, afirma sem hesitar. “Essa viagem a Paris foi encantadora”, exclamou. “Como não fazia parte do grupo principal, não tinha de participar em todos os eventos da delegação… estava mais livre (risos). Então calcorreei aquelas ruas, andei imenso de metro, visitei museus e parques, foi lindo!” No ensaio no palco do Palácio de Congressos outra experiência inesquecível. “No ensaio com aquela super orquestra, naquela parte com os violinos, atirei a voz lá pra cima e, de repente, 50 músicos viraram a cabeça e olharam para mim! Bem… até estremeci!” (risos).
Em 1980, é convidada a participar no Festival em nome próprio. A canção “Olá cega rega” de autoria de Paulo de Carvalho, não chegou a ser qualificada para a final. Mas isso não lhe deixou qualquer mágoa. “Era uma canção que gozava com o festival e não passou (risos)”. Em vez disso, novo convite para os coros: em conjunto com Lara Li participa na canção “Lição de português” interpretada por Madi. Mais tarde, “o Zé da Ponte, o Luís Pedro e eu escrevemos uma canção para o festival chamada ‘Doce de maçã’, mas achou a RTP que não era festivaleira e não foi selecionada.”
Desde então, o festival tem estado afastado da sua carreira, mas não da sua memória. “O Festival tinha uma importância enorme no tempo em que eu era criança. Assisti ao nosso primeiro ano na Eurovisão, aquele em que o António Calvário cantou a “Oração”. Lembro-me de ter chorado porque não tivemos nem sequer um pontinho… eu tinha 7 anos. O meu pai jogava no Áustria Viena em 1964, vivíamos lá nessa altura”. E as páginas do livro de recordações continuam a ser desfolhadas. “Uns anos depois, a canção do Carlos Mendes “Verão” foi uma delícia para nós, uma novidade, uma coisa tão moderna num tempo tão cinzento como era Portugal em 1968. Eu tinha 11 anos. Foi inesquecível!”
Sobre o Festival podíamos ter estado horas a conversar, pois as recordações que guarda são mais do que muitas! Mas preferimos falar de alguns momentos da sua carreira, como o facto de ter sido a primeira artista portuguesa a ver um videoclip seu passar num canal internacional de música. “Claro que me lembro do programa ‘Countdown’ e do inesquecível Adam Curry [o apresentador]. O programa era transmitido da Holanda para toda a Europa e a audiência em Portugal era enorme”.
Recuperámos esse famoso videoclip da canção “Dou-te um doce” de 1986:
O título da canção não podia ser mais adequado - “Nunca me fui embora” – e Lena d’Água explica porquê: “Nos últimos 20 anos, sempre que ia cantar, seja jazz, rock ou pop, apresentavam-me como “o grande regresso de Lena d’Água!” e eu pensava “Mas eu nunca me fui embora!” (risos). “Sempre vivi da música, nunca tive outra profissão”, esclarece. Nos anos 90 fez um disco e fez concertos durante 7 anos com o projecto de Pedro Osório com Rita Guerra e Helena Vieira «As Canções do Século». Nos anos 2000 dedicou-se ao jazz, cantou Billie Holiday e Elis Regina e gravou um CD/DVD ao vivo na mítica sala lisboeta Hot Clube de Portugal, ao qual chamou 'Sempre'. Mais recentemente recriou os seus temas dos anos 80 com uma banda de rock de nome Rock’n’Roll Station, com quem gravou o álbum Carrossel. Cantou ainda com as bandas They’re Heading West e Benjamim, cujos músicos vão participar também na atuação do Festival RTP 2017.
Veja uma das muitas versões de um dos maiores hits da carreira de Lena d’Água:
Confrontámos a artista com os restantes concorrentes, muitos dos quais saídos de programas de caça-talentos. “Se ganhar algum deles, ficarei feliz por eles. Ganhar o The Voice ou o X Factor é uma coisa muito forte, mas acaba num instante!”
No ano em que a RTP festeja 60 anos, Lena d´Água tem a mesma idade. “Ainda dizem que não há coincidências!”, termina com mais uma gargalhada.
Excelente entrevista. Que bom ver a Lena de volta (apesar de nunca ter parado eheh)
ResponderEliminarÉ um icon da musica portuguesa. Bem-vinda ao Festival!
ResponderEliminarToda a sorte do mundo Lena! Portugal, do Norte so Sul mais algarve e ilhas, apoia-te!
ResponderEliminarAo ler a entrevista, houve passagens que me fizeram recordar de uma outra artista, que para além de cantora é também compositora. Apesar do seu metro e meio de altura (mas com Teras de Talento!!), as editoras e rádios afastam-na para não fazer sombra a outros interesses, com desculpas esfarrapadas/condenáveis que, se Portugal fosse um País minimamente civilizado, tal atropelo aos Direitos Humanos mais fundamentais não ficariam impunes!! Bem, com os desejos de muita saúde para a Dina (e mudança de sorte), desejo, de coração, toda a Sorte do Mundo à Lena, que está muito bem entregue ao jovem Pedro Silva Martins!!
ResponderEliminarA canção de Portugal de 78, no ESC, obteve 5 pontos, só por mérito do belo guincho da nossa Lena :)
ResponderEliminarQuando li no ESCPortugal há um mês que a Lena dagua seria participante do festival nem queria acreditar. Adoro. Muita sorte
ResponderEliminarAs vossas entrevistas têm muita qualidade. Parabens
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