"Em maio do próximo ano, o Azerbaijão sediará o ESC, pela primeira vez. Porém, para centenas de pessoas que estão a ver as suas casas a ser destruídas para darem lugar a uma nova arena de espetáculos, a vinda do certame ao país provoca mais dor do que motivos de orgulho.
A pensionista Natalya Alibekova, tem uma casa há 11 anos, porém esta vive agora no meio de uma extensão de escombros. Um enorme guindaste paira sobre o seu apartamento, a estrada desapareceu e o seu prédio é ainda um dos últimos edifícios de pé naquele espaço.
Na semana passada, a senhora Natalya foi contactada por um grupo que não mostrou qualquer tipo de identificação ou documentos oficiais, mas foi-lhe dito que teria de abandonar o edifício até às vésperas d 2012 e, caso não o faça, será obrigada, através da força física, a abandonar a sua casa de há tantos anos. Afirmaram ainda: "(...) você não pode levantar-se contra o Governo, você não tem direitos e a sua casa já não existe".
A mesma continua a explicar o seu martírio:
"É horrível. Estamos todos doentes e preocupados, já para não falarmos do facto de não conseguirmos dormir. As obras deixam o prédio a tremer como se fosse um terramoto. As obras decorrem durante toda a noite, provocando um barulho intenso. Atualmente, a violação os Direitos Humanos é uma ocorrência diária."
Apesar das temperaturas muito baixas deste inverno, as autoridades cortaram a electricidade, o gás e água. Quando a senhora exigiu uma explicação para que tal esteja a acontecer, foi-lhe dito que a sua casa já nem sequer existia oficialmente, logo, tem de a abandonar a bem ou a mal.
"O elevador parou de funcionar, então agora temos que usar as escadas. O meu marido e eu somos velhos. Nós não somos capazes de transportar os nossos netos pequenos lá para cima. Consegue imaginar a vida sem eletricidade, gás e água? É impossível."
De acordo com Zohrab Ismayil, presidente da Associação Pública de Assistência à Economia Livre, o montante previsto para recompensar a família da senhora Natalya é menos de metade do valor de qualquer imóvel daquela parte da cidade. "Aqui no Azerbaijão a violação dos Direitos Humanos é uma ocorrência diária e este caso não é o único", disse ele. "As autoridades azeris não têm o direito legal de usar a força para mover as pessoas e destruir as suas casas", completou.
Este revela que alguns proprietários foram informados de que se eles se recusarem a sair, a polícia irá encontrar uma razão para prender os seus filhos adolescentes, ou que os funcionários públicos perderão os seus empregos. "As autoridades governamentais envolvidas no certame não são transparentes na organização. Eles não querem cooperar, não falam com as pessoas e apenas as ameaçam."
O porta-voz do comité do azeri para questões de propriedade, Gulu Ogtay Halilov, não esteve disponível para comentar o assunto. Assim que vários representantes da cidade de Baku foram contactados e informados do tema, desligaram de imediato.
O centro de Baku livrou-se do seu passado sujo Soviético e foi transformado numa cidade brilhante, com boutiques de designers e avenidas de prestígio. A riqueza do petróleo azeri está a ser usada para remodelar a cidade de Baku e, como tal, várias famílias têm sido despejadas sem qualquer poder de decisão. Veja-se um exemplo que decorreu em 2010: em novembro a polícia forçou oito pessoas a abandonar as suas casas, algumas delas ainda estavam de pijama e chinelos, e foram detidas durante nove horas, enquanto que as autoridades esvaziavam e, mais tarde demoliam os seus apartamentos. Há até casos em que a demolição começou ainda com moradores dentro dos prédios.
O governo está interessado em usar a Eurovisão para melhorar a imagem do Azerbaijão, que está numa região muitas vezes esquecida, ou mesmo desconhecida pelo resto do mundo. Mas atenção, este plano pode sair furado já que a atenção dos meios de comunicação mundiais se está a virar mais para os abusos cometidos pelas autoridades."
Fonte: oikotimes, BBC / Imagem: google
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